Foto: Arquivo Pessoal
Por: Justiça no Interior
Há 18 anos a delegada Gabriela de Diego Garrido compõe o quadro da Polícia Civil da Bahia. Desde setembro de 2020, Garrido comanda a Delegacia de Atendimento à Mulher de Vitória da Conquista, no Sudoeste do estado. Durante o mês de março, a DEAM de Conquista realizou inúmeros eventos e campanhas na conscientização da importância do combate a violência contra mulher.
Em entrevista ao Justiça no Interior, concedida na quarta-feira, 15, Gabriela afirmou que uma das principais dificuldades em uma investigação de um caso de violência contra mulher “é conseguir a colaboração da própria vítima”. A delegada ainda disse que quando mulheres ocupam cargos de poder, elas se tornam referências para outras mulheres e passam “a trabalhar em prol dos direitos das outras mulheres”. CONFIRA.
JUSTIÇA NO INTERIOR: Quais desafios encontrados na investigação de casos de violência contra mulher?
GABRIELA GARRIDO: O maior desafio encontrado na investigação dos casos de violência contra mulher é conseguir a colaboração da própria vítima. Porque a própria vítima, por diversos motivos, psicológicos e sociais, acaba, muitas vezes, desistindo da investigação. E mesmos casos onde a representação criminal ela não é exigida, a colaboração da vítima é fundamental porque ela que vai fornecer as principais informações para a polícia
J.I.: Vitória da Conquista é a segunda cidade no número de medidas protetivas em toda a Bahia, foram 962 em 2021. O que isso aponta?
G.G.: Aqui é uma cidade grande, onde a DEAM funciona e as mulheres acreditam no serviço. Medida protetiva não é uma ação cautelar, é um direito da vítima. Se a vítima chega lá, nós sempre aparecemos, falamos da medida protetiva. Se ela quer, a gente envia. Então, eu acredito, que elas veem a efetividade dessa medida
J.I.: Houve um aumento de casos de agressão durante a pandemia?
G.G.: Houve um aumento da gravidade dos casos e houve um aumento na implementação de disque denúncia. Em relação ao número de ocorrências não houve aumento significativo, mas a gente sabe que a violência doméstica aumentou, de certa maneira.
J.I.: O principal agressor ainda é o companheiro?
G.G.: Sim, o principal agressor ainda é o companheiro. Mas a gente tem um grupo grande de mulheres, que tá crescendo, que são mulheres idosas agredidas pelos filhos.
J.I.: A denúncia ainda é a principal maneira de poupar vidas?
G.G.: Com certeza, a denúncia ainda é a melhor maneira de poupar vidas. Porque se o agressor sabe que a polícia tem conhecimento da situação e do risco de vida que a mulher corre, ele também sabe que ele praticando uma coisa mais grave será a primeira pessoa que a polícia vai procurar. Então isso, de certa forma, intimida o agressor. Tanto que nós temos estatísticas que entre as vítimas de feminicídio apenas 5% tinham procurado a polícia. Então a gente percebe realmente que a denúncia salva-vidas.
J.I.: Existe a necessidade de um trabalho coordenado pra estimular as vítimas a denunciar? E como seria esse trabalho?
G.G.: Existe um trabalho coordenado para estimular as vítimas a denunciar e esse trabalho é feito pela DEAM de Vitória da Conquista. Nós estamos sempre engajados em campanha publicitárias, cada hora em um foco diferente, para que a vítima se perceba como vítima efetue a denúncia.
J.I.: Quais principais pontos o direito da mulher precisa avançar e o que é necessário para isso?
G.G.: A gente precisa alcançar espaços de poder, principalmente políticos. Quando a gente tem uma mulher que é eleita, quando a gente tem uma mulher Prefeita, quando a gente tem uma mulher Delegada Geral, quando a gente tem uma mulher Presidente do Tribunal de Justiça, coordenando o Ministério Público, quando a mulher adentrar nesses espaços de poder ela passa, além de ser referência para que outras mulheres também vejam que aquilo é possível, a trabalhar em prol dos direitos das outras mulheres. E isso é muito importante, principalmente no aspecto político.