Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
A Justiça do Trabalho de Feira de Santana determinou que o Banco Bradesco deve readmitir o funcionário Osmar Ferreira, de 80 anos, que foi demitido do emprego em abril de 1964, após ser preso durante a ditadura militar. Na época, Osmar foi preso por acusações de ser comunista pelo fato de ser diretor sindical e líder do movimento.
“Foi o meu primeiro emprego, quando eu tinha 17 anos. Comecei a trabalhar no dia 6 de setembro de 1960. Em 1961, fui convocado para ajudar na fundação da Associação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Feira de Santana, e isso nós conseguimos fazer. Foi feita a primeira eleição, e eu também fui eleito para fazer parte da diretoria. Aí veio, infelizmente, 64, com um golpe militar terrível, e os sindicatos foram fechando e as associações também”, disse Osmar ao site Acorda Cidade.
Osmar Ferreira se recorda que no dia 2 de abril, a polícia invadiu a sede do Sindicato dos Bancários de Feira de Santana, na Praça Bernardino Bahia. Jogaram máquinas de escrever pela janela, documentos, mimeógrafos e, após deixarem um rastro de destruição, nomearam interventores. Dias depois, o bancário foi levado para a prisão.
“Fui preso no dia 8 de abril de 1964, por volta das 11h, dentro da agência um dia depois de ter completado 21 anos. Fui preso por um sargento do Exército e mais dois sargentos da Polícia Militar, armados com metralhadoras. A alegação é que eu era comunista, pelo fato de ser diretor sindical e líder do movimento. Fiquei 12 dias preso. Sai da prisão no dia 20 de abril de 64. Fiquei desempregado, não achava emprego em lugar nenhum e tive que me tornar caminhoneiro, igual ao meu pai”, contou.
Após a criação da lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade em 2011 pela ex-presidente da República, Dilma Rousseff, foram apuradas as violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar. Por isso, o ex-bancário entrou com uma ação na Justiça pedindo reparação moral e indenização.
Segundo Osmar Ferreira, em primeiro grau, a juíza homologou um valor a ser pago pela instituição financeira de 5 milhões e 425 mil reais. No entanto, o banco recorreu, alegando que o idoso não tinha direito a receber esse dinheiro e sugeriu sua readmissão, que foi aceita pela Justiça.
“É um fato inédito no Brasil, e eu tenho que voltar, depois eles que me mandem embora novamente, porque foi uma determinação judicial. Não vou receber a indenização”, declarou.
Agora, novamente parte da categoria bancária, Osmar Ferreira diz que irá fazer o teste para a readmissão, mas que no auge dos seus 80 anos não sabe como será este retorno ao interior de uma agência.
“O banco não vai pagar e eu vou voltar com força total. Hoje foi entregue o documento da juíza ao banco para me readmitir. O banco agora é que vai resolver o que vai fazer comigo. Não sei se durante o exame readmissional terei condições físicas para voltar ao trabalho, aos 80 anos de idade. Não tenho esperança de receber nenhum valor.”
Apesar do desfecho do caso, o idoso espera que sua história sirva de exemplo para os trabalhadores em geral.
As informações são do Acorda Cidade