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Estudo pode revelar vestígios históricos de um cemitério do século XVIII, resgatando a memória de escravizados e outros grupos marginalizados
O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) realizou, nesta quarta-feira (29), uma reunião para viabilizar a realização de uma pesquisa arqueológica em uma área de Salvador onde, segundo estudos, pode estar localizado um antigo cemitério de escravizados. O encontro, presidido pelo promotor de Justiça Alan Cedraz, reuniu representantes da Santa Casa de Misericórdia, do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e a pesquisadora Silvana Olivieri, doutoranda em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
“O MPBA reuniu todos os órgãos que têm interesse na questão do patrimônio cultural material e imaterial para discutirmos uma minuta de um termo de cooperação, que será analisado pela Santa Casa de Misericórdia, que permitirá a realização da pesquisa arqueológica no local”, afirmou a promotora de Justiça Cristina Seixas.
A Santa Casa de Misericórdia se comprometeu a responder sobre a adesão ao termo de cooperação até o dia 24 de fevereiro. Segundo pesquisas de Silvana Olivieri, o cemitério estaria localizado sob o atual estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, área pertencente à Santa Casa. “Nosso objetivo é favorecer o diálogo para que as ações de resgate da memória sejam implementadas e seja feita a pesquisa”, destacou o promotor Alan Cedraz.
A reunião contou ainda com a presença de representantes do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac), da Fundação Gregório de Matos e do Instituto Juristas Negras. Para a promotora Cristina Seixas, as escavações podem contribuir significativamente para a preservação do patrimônio histórico. “Trata-se de um momento em que vamos resgatar a imagem e memória desse cemitério que recebeu restos mortais de muitas pessoas negras que não eram, naquela época, valorizadas, além da perspectiva dos restos mortais de pessoas que participaram da Revolta dos Malês e de outras revoltas pela liberdade dos escravos no Brasil”, afirmou.
O cemitério, criado no século XVIII e fechado em 1844, foi administrado inicialmente pela Câmara Municipal e, posteriormente, pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. O local teria servido para o sepultamento de escravizados, além de pobres, indigentes, suicidas e encarcerados. “Esse achado tem o potencial de abalar as bases coloniais e racistas dessa cidade. Porque a gente sabe que essas práticas coloniais apagam memórias e vestígios de violências e assim se perpetuam. O cemitério trata desse direito à memória, direito à verdade e ao luto”, concluiu a pesquisadora Silvana Olivieri.
Com informações do Ministério Público do Estado Bahia.